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domingo, 18 de setembro de 2011

O complicado e necessário cochilo do bebê...


O que faz o bebê tirar uma soneca? A maioria dos pais considera a soneca do bebê um momento de descanso para os filhos e para eles próprios. A soneca, porém, não tem recebido a atenção merecida, nem mesmo dos especialistas em sono. Além disso, os problemas com a soneca geralmente são tratados por pediatras uma vez que os pais têm dificuldade em impor limites para ela.

Agora, os pesquisadores estão descobrindo que essa questão não é tão simples. A soneca da criança é, na verdade, um comportamento complexo. Uma combinação biológica singular, que inclui desenvolvimento neurológico e hormonal, expectativas culturais e a dinâmica familiar.

Geralmente, os pais apenas querem saber quanto tempo a criança precisa para a soneca. Essa preocupação tem pouco mais de cem anos. Na primeira década do século 20, especialistas europeus publicaram estudos originais em que mediam os padrões de sono de crianças. Eles se preocuparam de imediato com o fato de as crianças não estarem dormindo o suficiente.

Nos dias atuais, os pesquisadores acreditam que crianças pequenas tiram sonecas porque a chamada pressão do sono se desenvolve rapidamente em seus cérebros – ou seja, a carência de sono se acumula tão rapidamente nas horas em que estão acordadas que se transforma em uma necessidade biológica.

Não se trata apenas do tempo de sono que a criança precisa em 24 horas. Pode ser que seja por causa da atividade sináptica intensa de seus cérebros demasiadamente ativos e conectados que as crianças pequenas não consigam ficar acordadas por longos períodos.

No início dos anos 1980, o doutor Alexander A. Borbely, professor de farmacologia da Universidade de Zurique, na Suíça, apresentou um “modelo de regulação do sono em duas etapas”.

O processo circadiano foi localizado em uma área específica do cérebro e funciona, de certa forma, como um relógio, vinculando o sono a horários e a ciclos de luz/obscuridade, independente de como ou por quanto tempo dormimos. Ele interage com o processo homeostático, que funciona determinando a necessidade de sono, que aumenta com tempo de permanência desperto, e desenvolvendo a pressão do sono, que pode ser medida via registros de eletroencefalograma.

A soneca da criança ocorre “porque a homeostase do sono dela age rapidamente – desenvolve a pressão do sono de forma mais rápida, por isso elas não são muito resistentes a ficar acordadas por longos períodos”, afirma o doutor Oskar Jenni, pediatra e diretor do projeto de desenvolvimento da criança do Hospital Universitário Infantil de Zurique.

Cochilos variam conforme a idade


Geralmente, os bebês dormem entre uma refeição e outra por períodos curtos, de dia e de noite. Conforme vão crescendo, eles passam a dormir à noite (umas vezes mais, outras menos) e serem mais ativos nas primeiras horas da manhã. Ainda de manhã, eles tiram uma soneca, acordam de novo para brincar, depois comer e mais soneca à tarde.

Às vezes, depois de completarem um ano, as duas sonecas se fundem em uma, geralmente no final da manhã ou começo da tarde.

“A justificativa para a soneca da tarde, por volta das 15 horas, é aumentar a necessidade de sono, para pegar no sono à noite”, afirma a doutora Judith Owens, pediatra e diretora do Centro Médico Nacional Infantil, em Washington.

À medida que chegam à idade escolar, a maioria das crianças começa a resistir à soneca remanescente ou apenas a deixam para trás. Porém, há muitas variações individuais e para muitos pais é um desafio lidar com a criança que parece determinada a ficar sem um cochilo.

Às vezes, os problemas surgem porque o fato de a criança abdicar da soneca é incompatível com a programação diária dos pais ou com a rotina da creche.

Outras vezes, os pais consideram o mau humor, o choro e a negatividade geral que aparecem com o cansaço um sinal de que a criança não está pronta para ficar sem cochilar.

“Aos 5 anos, aproximadamente 80 por cento das crianças deixaram de tirar uma soneca – o que significa que uma de cada cinco crianças ainda tem esse hábito”, afirmou Owens.

Jenni é um dos autores de um amplo estudo publicado em 2003, na revista Pediatrics, que mediu a duração do sono na infância. Ele e seus colegas documentaram a diminuição da soneca diurna e a consolidação do sono noturno à medida que um grupo de crianças suíças crescia. Além disso, eles descobriram que, até os 10 anos de idade, havia uma tendência à uniformidade na necessidade e nos padrões de sono de cada criança. Em outras palavras, as crianças que, quando bem pequenas, dormiam menos do que seus colegas, se tornavam crianças mais velhas com menos necessidade de dormir.

Um estudo realizado com crianças americanas, com idades entre 3 e 8 anos, mostrou disparidades também entre crianças negras e brancas. Embora a duração total do sono dos dois grupos tenha sido semelhante, as crianças negras tiravam mais sonecas e tendiam a parar com o hábito mais tarde.

Apesar das descobertas intrigantes, o estudo dos padrões do sono ainda está na fase preliminar – ou na primeira infância. Os especialistas apenas começaram a compreender as bases biológicas do sono.

A doutora Monique LeBourgeois, especialista em sono da Universidade do Colorado, em Boulder, e seus colegas conduziram recentemente um primeiro estudo sobre como a soneca afeta a resposta do cortisol ao despertar, a liberação de hormônios que ocorre pouco após o despertar matinal. Eles demonstraram que as crianças produzem esta resposta logo após sonecas curtas matinais e vesperais, mas não após as noturnas, o que pode representar uma adaptação que ajuda na reação ao estresse sentido durante o dia.

Por meio de um experimento de restrição do sono em crianças pequenas e da subsequente análise do comportamento delas resolvendo quebra-cabeças, o grupo também quantificou de que forma a soneca – ou a falta dela – afetaram a resposta das crianças em determinadas situações.

“Crianças sonolentas não conseguem lidar com os desafios do dia a dia em seu mundo”, afirma LeBougeois. Quando a criança deixa de tirar apenas um cochilo, “fica menos positiva, mais negativa e ocorre uma diminuição do envolvimento cognitivo”.

Porém, para os pais, e também para os cientistas, existem várias perguntas não respondidas: que fase é considerada precoce parar de tirar uma soneca? Quando já passou da hora de tirar o hábito? De que forma os padrões familiares e as normas culturais afetam os processos circadianos e homeostáticos? “Eu acredito que exista uma necessidade urgente dos adultos em geral de estar em sintonia com a fisiologia de cada criança”, afirmou LeBourgeois.

“Quais são as capacidades e quais são as limitações?”.

Este comportamento diário da criança, que geralmente causa discussões em família, é produto de expectativas familiares e culturais, bem como de uma complexa biologia, que se modifica conforme a criança se desenvolve.

“Parar de tirar uma soneca representa um processo de maturidade neurológica da criança”, afirma Jenni. “Quando ela consegue ficar sem dormir significa que seu cérebro está se desenvolvendo”, afirma.

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