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domingo, 26 de junho de 2011
Woody Allen viaja no tempo....
Viagem: Pela Paris de 1920
Já está disponível em alguns cinemas brasileiros, o novo sucesso de Woody Allen, um mês após estrear no festival de Cannes. "Meia-Noite em Paris" há tempos é um dos longos mais comentados, além de outros motivos, por ter uma participação (simbólica) da primeira-dama da França, Carla Bruni.
Nele, Gil, vivido por Owen Wilson, é um roteirista americano que acompanha a noiva Inez, interpretada pela Rachel McAdams, em uma viagem a Paris. Nos arredores da cidade, ele fica deslumbrado ao se deparar com paisagens que serviram de inspiração para o pintor Vincent van Gogh. Vale lembrar que Gil é um portador da "síndrome da Era de Ouro", ou seja, tende a romantizar o passado a ponto de fugir da realidade no presente.
Até que o roteirista é misteriosamente transportado para esta Paris dos anos 1920 e passa a frequentar as mesmas festas que os artistas responsáveis por tornar a cena artística daquela década uma das mais fervilhantes da história. Gente como os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o cineasta Luis Buñel e os pintores Salvador Dalí - brilhantemente interpretado por Adrien Brody, segundo os críticos - e Pablo Picasso, com quem Gil passa a disputar uma mulher.
Como o seu noivado atual está indo de mal a pior, a nova paixão se torna um dos principais motivos para Gil dar uma escapadinha para os anos 1920 a cada noite.
Fantasia e realidade em tributo a Paris
Os últimos filmes estrangeiros - em Londres, em Barcelona - podem servir como comprovação de que Woody Allen não se sente muito à vontade no exterior, como gostam de repetir alguns críticos. Mas Paris é "exterior"? Não para um nova-iorquino, em todo caso. E Woody Allen é, por excelência, nova-iorquino.
Eis os principais motivos para "Meia-Noite em Paris" manifestar, desde as primeiras imagens, uma familiaridade com a capital francesa que talvez tenha muito a ver com a desenvoltura do próprio autor neste filme que, de início, insinua-se como uma extensão de "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), mas que em seguida abandona aquele entra-e-sai da tela que caracterizava o filme, como avaliam os especialistas em Allen.
Inez, seus pais e o amigo de Inez, Paul, revelam-se ali americanos típicos por vários títulos: são fúteis, ou pedantes, ou republicanos etc. Enfim, tudo o que Woody Allen detesta. Em contraposição, existe a cidade luz. Não nos deixemos levar pelo lugar-comum: Gil é que se deixa.
Ele mesmo é um homem de Nova York, um letrado (alter ego do autor do filme, embora more em Los Angeles por causa dos roteiros de cinema que escreve). É alguém disposto a trocar uma conversa com gente chata por um passeio ao léu por Paris.
Onde se perde, claro. Onde é resgatado por um velho carro e levado a uma festa. Quando começa sua viagem pela capital da luz em 1920. E é também quando "Meia-Noite" enfrenta seu grande risco - o de virar um segundo "Rosa Púrpura" - e o desafio de tornar-se um verdadeiro filme fantástico (como gênero).
O sonho de Gil, enfim. Mas, como esse sonho se torna recorrente, como se confunde com o livro que tenta escrever, uma nova dimensão lhe é acrescida. Não é apenas um sonho. É todo o fascínio pela Paris de 1920 que se manifesta ali, inclusive na medida em que se apaixona por uma bela modelo que, no momento, tinha um caso com Picasso.
Assim, não é apenas um retorno ao passado como sonho, mas uma maneira de reordenar o presente (sua vida) a partir do passado. E, com ela, a percepção de que o tempo não existe, a não ser como outro sonho.
Se não consegue sempre manter a intensidade em sua viagem no tempo, Allen consegue, em todo caso, afirmar com força essa identidade entre fantasia e realidade, que talvez seja o que de melhor o cinema pode criar.
E faz um filme alguns quilômetros à frente do que temos visto até agora, neste ano. A média na avaliação dos críticos aponta o longa como ótimo.
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